quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Vodun Tobossi






As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que os demais Voduns. Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual Benin. Eram cultuadas na Casa das Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a década de 60.

As Tobossis gostavam de brincar como todas crianças e falavam em dialeto africano, diferente dos Voduns adultos, o que dificultava muito entendê-los. Sem contar que, muitas das palavras elas falavam pela metade.

Elas vinham três vezes por ano, quando tinha festas grandes, que duravam vários dias.

A chefe das Tobossis é Nochê Naé, a grande matriarca da família Davice,ancestral da família real de Dahome, é considerada a mãe de TODOS os Voduns.

As Tobossis têm cânticos próprios,dançavam na sala grande ou no quintal, sem os tambores e, como todas as crianças, adoravam ganhar presentes e brincarem com bonecas e panelinhas.

Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e tinham o costume de dar doces e comidas às pessoas. Sentavam-se em esteiras.

Pela manhã, tomavam banho, comiam e depois dançavam. Gostavam de dançar no quintal, em volta do pá de ginja delas.

Por serem crianças puras, tinham mais afinidade com o corpo permitindo assim, uma ligação mais direta que os Voduns, que são adultos. Não tinham falhas, não se irritavam.

Seu papel no culto era só "brincadeira". Eram espíritos perfeitos e mais elevados. Os Voduns podem ter falhas, as meninas não.

Passavam até nove dias incorporadas em suas gonjaí, diferente dos Voduns que deixavam as filhas muito cansadas.

Tinham um tratamento melhor do que o dos Voduns por serem mais delicadas, porém os Voduns são mais importantes por terem mais obrigações.

Podemos observar similaridade entre as Tobossis do Mina Jeje e os Erês dos Candomblés da Bahia e dos Xangôs de Pernambuco, pelo comportamento infantil. No entanto, os Erês apresentam-se tanto com características femininas quanto masculinas e as Tobossis são, exclusivamente, femininas, dengosas e mimadas.

FEITURA DAS TOBOSSIS

O processo de feitura das Tobossis inicia-se, normalmente, com o Vodum principal da Casa apontando um grupo de filhas, já iniciadas anteriormente, as voduncirrês, para a feitura de Tobossi.

As voduncirrês passam por uma fase de iniciação que tem a duração de quinze dias, nos quais há algumas festas. É uma feitura própria, um novo rito de passagem na graduação da iniciada no Mina Jeje.

O barco composto dessas voduncirrês é chamado de Barco das Novidades, Barco das Meninas ou Rama.

Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para receberem suas Tobossis, passando a serem chamadas gonjaí. As Tobossis só são recebidas pelas voduncirrês gonjaí.

O último barco que se tem conhecimento foi realizado em 1913-1914.

No processo de iniciação, as Tobossis eram chamadas de sinhazinhas e, somente ao fim das feituras, é que davam seus nomes africanos. Também eram por nomes africanos que elas chamavam as filhas da Casa. Esses nomes eram escolhidos pelas Tobossis junto com os Voduns e esses nomes eram divulgados no dia da "Festa de dar o Nome".

Cada Tobossi só vinha em uma gonjaí e, quando esta morria, elas não vinham mais, sua missão ali se encerrava.

Desde a morte das últimas gonjaí, por volta dos anos 70, as Tobossis não vieram mais.

As Tobossis só incorporam em suas gonjaí após os Voduns terem "subido". Elas chegavam alegres, batendo palmas e acordando a Casa.

No Peji, há um lugar para as obrigações das Tobossis, que é uma feitura muito fina e especial.

VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS

Os trajes e apetrechos das Tobossis são muito elaborados.

As Tobossis vestiam-se com saias coloridas, usavam pulseiras chamadas dalsas, feitas com búzios e coral, pano-da-costa colorido, o agadome, sobre os seios, deixando o colo e os ombros livres para o ahungelê, uma manta de miçangas coloridas, presa no pescoço, objeto de grande valor e significado. O ahungelê também era chamado de tarrafa de contas, gola das Tobossis ou manta das Tobossis, sendo considerado um distintivo étnico-cultural do Jeje. Ele conta a história particular da Tobossi vinculada ao Vodum, sua família e a iniciada, gonjaí.

As Tobossis usavam ainda, vários rosários, fios-de-contas e o cocre, colar de miçangas curto, junto ao pescoço como uma gargantilha, usado pelas Tobossis e pelas gonjaí durante o ano de feitura, cuja cores variam de acordo com seus Voduns, semelhante ao quelê dos terreiros de Candomblé.

No Carnaval, as Tobossis vestem-se com saias muito vistosas, aparecendo o agadome que envolve o colo nu e os pés são calçados em sandálias finas.

Os trajes das Tobossis são muito elaborados, de uma construção artesanal, que segue com rigor uma linguagem cromática, própria e do domínio das Tobossis.

A PARTICIPAÇÃO DAS TOBOSSIS NAS FESTAS

Quando apareciam publicamente, as Tobossis vinham cumprir certas obrigações, destacando-se a festa do Carnaval.

As Tobossis vinham três vezes por ano:

- Nas festas de Nochê Naé - em junho e no fim do ano

- No Carnaval

As grandes festas duravam vários dias.

O Carnaval é uma comemoração da qual participavam os membros do Barracão e visitantes. No Carnaval, elas ficavam desde a noite do domingo até as 14 hs da quarta-feira de cinzas. Na segunda-feira, alguns Voduns vinham visitá-las. Eram recebidos pelas outras filhas da Casa, as voduncirrês.

Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das frutas do arrambam, obrigação também conhecida como bancada, lembra a quitanda dos terreiros de Candomblé. As frutas ficavam no Peji para serem distribuídas na quarta-feira de cinzas.

Durante o Carnaval, as Tobossis brincavam com pó e confete mas tinham medo de bêbados e mascarados.

Na terça-feira à tarde, dançavam na grande sala e na quarta, pela manhã, dançavam em volta da cajuazeira. Distribuiam acarajé em folhas de "cuinha" e depois despachadas.

Durante as grandes festas de Nochê Naé, elas vinham durante nove dias, entre os dias de dança, nos intervalos de descanso. Ficavam durante o dia, cantavam suas cantigas próprias, dançavam na sala grande e no quintal e brincavam com seus brinquedos.

O reconhecimento de cada festa/obrigação está no vestuário e nos alimentos. O alimento é uma marca identificadora, compõe a divindade, seu papel, suas características no contexto da ligação com os deuses e estabelecendo, ainda com o alimento, uma forma de comunicação com os iniciados, visitantes e amigos do Barracão.

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